Com o distanciamento, a reflexão: pessoas desejam trabalhos mais felizes para se realizar, enquanto as empresas, menores custos e recuperação dos lucros. As relações, que já davam sinais de esgotamento, tem agora novo teste. Que modelo de gestão emergirá da crise?
Alguns acreditam na máxima de que “o negócio da empresa é o próprio negócio” e que a agressividade comercial e competência no mercado é o que importa. Outros defendem a felicidade como a real finalidade empresarial. Prefiro somar essas percepções para criar uma visão mais convergente: que tal uma comunidade de lucros?
Uma nova dinâmica acelerou a vida e aproximou a teoria da prática, a concepção da ação, a racionalidade da intuição e a sobrevivência da evolução. Como consequência, capacidades estão envelhecendo e arrastando negócios e profissionais para o desconhecido. Se as fragilidades foram reveladas, a interdependência sugere uma nova maneira de construir coletivamente felicidade e lucros.
Essa é a razão de apoiar minha proposta em dois fundamentos-chave do social e do econômico: os conceitos de comunidade e o de lucratividade. O primeiro traz a ideia de identidade cultural, da qualidade de ser comum a todos e do senso de pertencimento; o segundo reconhece a legitimidade do lucro como recompensa da capacidade empreendedora. Quando associados, podem servir de inspiração para as necessárias mudanças nos propósitos, na gestão e na governança das organizações.
Durante a pandemia, algumas empresas demonstraram já estar nesse caminho, através dos seus exemplos de respeito e solidariedade com seus parceiros e a sociedade. Outras, infelizmente, concentraram o olhar na própria sobrevivência, esgarçando os laços sociais com seus stakeholders.
Para dar mais concretude ao conceito de comunidade de lucros, sugiro a adoção deste conjunto de valores e práticas:
a) Adoção da Meritocracia: para desafiar a ambição legítima das pessoas em crescer e realizar seus objetivos e os propósitos empresariais;
b) Fortalecimento da Lealdade: cujo objetivo é construir e manter relações confiáveis com elos fortes e produtivos em toda a cadeia de valor;
c) Prática da Reciprocidade: com a finalidade de estimular os fluxos de informação, e inovação nas estratégias de relacionamento com clientes, talentos e parceiros;
d) Valorização da Identidade: para ampliar o respeito à singularidade e ao protagonismo individual na criação de um ambiente de liberdade e pertencimento;
e) Conduta de Integridade: como norteador das condutas éticas e morais nos negócios e relacionamentos. Indutor da confiança, da transparência e da reputação;
Esses princípios estão presentes em nossos livros, artigos publicados, palestras e projetos empresariais. O diferencial, na atualidade, é a notória importância que estes valores assumiram como um sinal claro das lições da crise.
Este artigo foi publicado no Jornal do Comércio, edição impressa de 06/07/2020.