Como será o amanhã? Responda quem puder, diz a canção.
Segundo especialistas, mergulhamos num ambiente volátil, incerto, complexo e ambíguo, para emergir num contexto ainda mais frágil e incompreensível, onde nos resta a flexibilidade e adaptação para sobreviver.
Como se, em meio às nuvens da gestão 4.0 e da tecnologia 5.0, no portal do Metaverso, tivéssemos perdido a significância do que somos, fazemos, consumimos e valorizamos. As altas taxas de ansiedade e depressão nos profissionais, associadas ao distanciamento físico e emocional das empresas, são alertas de que algo não está indo muito bem com o modelo de progresso adotado.
Tomemos o exemplo das startups, formatos inteligentes de negócio adaptados para agir em contextos mutantes. Como sistemas em rede, promovem o empreendedorismo, a cooperação e a criatividade, explorando o potencial da tecnologia para inovar em soluções sociais e micas. Estes atributos induzem a imaginar que estariam imunes às tensões, frustrações e fragilização dos laços com parceiros, investidores, clientes e talentos, presentes nas organizações tradicionais. Na verdade, sofrem dos mesmos males.
Podemos deduzir que as mudanças no design ou no mindset de negócios não são suficientes para recuperar os danos, sem haja uma transformação na essência da empresa e em sua cultura. Se a Inteligência artificial e os algoritmos são eficazes para dar racionalidade às decisões, cabe aos princípios e valores éticos reconstruir os laços sociais e emocionais que unem pessoas e organizações.
A “Organização ponto Zero” é um convite para um breque e recontratar a conexão entre humanos e os negócios, desgastada nestes tempos frenéticos. A evolução das organizações não pode ser medida pela velocidade na gestão, tecnologia adotada, ou resultados obtidos. Minha experiência em projetos inovadores com diferentes profissionais me ensinou que a natureza humana não consegue ser produtiva, criativa ou feliz, em ambientes inseguros e hostis, com os quais não mais se identifica.
É aqui que entra a ética na estratégia empresarial, para ampliar a consciência, aperfeiçoar práticas e qualificar as condutas das lideranças. Cito alguns exemplos:
Definir propósitos e causas são essenciais para identidade com a marca de modo a engajar clientes, colaboradores e demais stakeholders. Isso só funciona se houver integridade nas ações, caso contrário os propósitos se transformam em despropósitos e a ilusão se desfaz. A conta vem em perdas de clientes, talentos e resultados.
A inovação é o que move os negócios, através da criatividade e da cooperação. Mas é bom lembrar que essa troca de conhecimentos, experiências e ideias, se fundamenta na lealdade e na reciprocidade entre as pessoas. A expectativa de ganhos e realização pode atrair os empreendedores, mas é a confiança que sustenta estes vínculos no longo prazo. Um valor ético demandado e cuja oferta é restrita.
A ambição das pessoas em aprender e empreender prospera em ambientes meritocráticos. Mas o mérito não é uma unanimidade. O que lhe dá legitimidade é a humanização do processo, a ética embutida no nivelamento das condições de competir. Sem clareza das regras do jogo, não existe reconhecimento e a mediocridade rouba a cena.
Tenho defendido que as empresas se reconheçam como comunidades de lucro e felicidade, como já abordei num artigo com este título. Comunidades, como identidade social coletiva e cultura comum.
Lucratividade, como recompensa legítima da competência empreendedora do conjunto. A convergência dos interesses entre Humanos e negócios transcende à filantropia, ao altruísmo ou a modismos. É uma resposta efetiva de responsabilidade social e governança para competir e humanizar a vida nas organizações.
Concluindo, reforço que a Organização Ponto Zero pode ser qualquer empresa que se disponha a ir além dos modelos mentais e de negócio e adote a cultura da ética para legitimar suas ações e dar mais significância às realizações coletivas.
E o amanhã será aquele que nós quisermos.